Texto VI.

“COLONIA AZUL __ CIDADE ESCOLA DOS NASCIDOS MORTOS.”

“ À Colônia e seus portões floridos abriram-se para nos acolher. Descortinou-se aos nossos olhos um jardim em flor, onde os miosótis compunham, junto às rosas, um buquê divino. A Colônia era pequena, mas muito florida. Quem nos recebeu foi Carlito, levando-nos para a ala nove, onde Francis nos esperava.

__ Sejam bem vindos à nossa Colônia.

Chegando ao local das violetas azuis, fomos recebidos por Constança, que nos dava explicação de tudo. O salão era composto de muitos berços e carros de bebê. As crianças eram bem pequenas, mas muito bem tratadas pelas enfermeiras. Estava curioso para saber algo sobre elas, quando irmão Lourenço esclarece:

__ Estes irmão foram abortados inconscientemente pelas mães por excesso de medicamentos, fraqueza uterina ou mesmo câncer, ou a própria dos bebês que não queriam voltar à carne.

__ E pode isso ocorrer?

__ Sim, em muitas ocasiões a gravidez é efetuada, mas não consegue atingir os nove meses. Este recanto fortalece os fetos para nova descida à carne.

__ Por que ocorrem estas rejeições?

__ Como já disse, vários fatores as originam, porém o mais comum refere-se aos bebês que não querem reencarnar. Muitos por terem sido rejeitados.

Perguntei se podia pegar Lisandra no colo e, ao fazê-lo, gritou tanto que quase saí correndo. É difícil de acreditar, mas ali estava, no plano espiritual, uma colônia de crianças, uma das maternidades divinas. Todo o grupo admirava o lugar, que nem parecia estar alojado no umbral, tal a paz ali reinante. Depois de visitarmos o pátio, fomos levados até a sala de estudos, onde se preparava mais uma reencarnação. Comentei co Aloísio:

O departamento é fogo, está em muitos lugares, por isso a “negada” não pode bobear.
Todos fizeram força para não rir e confesso que fiquei envergonhado, porque a irmã Joaquina acrescentou:

__ Deus é bom, por isso Ele não cansa de nos chamar ao trabalho.

A equipe passou a examinar os prontuários daqueles espíritos que foram abortados por vários fatores. No desencarne, como na reencarnação, o espírito passa por uma experiência marcante. É como um salto bem alto de u,m plano para outro. Assistimos aos filmes projetados e um deles relacionava-se com Lisandra. Vimo-a em tamanho normal, uma senhora de seus sessenta anos, sendo unida ao útero materno e este, composto de fortes correntes eletromagnéticas, ia reduzindo-a. O espirito de Lisandra, aconchegando ao seio materno, iniciava o trabalho divino da formação do seu corpo carnal. Mas percebemos que o espirito, mesmo com a veste perispiritual reduzida, enfrentava momentos dramáticos: na sua mente, bem viva, encontrava-se guardado o passado e o que ocorrera em sua encarnação anterior. Notamos a indecisão daquele espírito: vou ou não vou, e na mente de Lisandra surgiam fatos que a levaram a desistir da nova encarnação. Então tudo fez para retornar ao plano espiritual. Assistimos naquele filme ao bloqueio mental de um espírito que não desejava mais renascer. Ele, o espírito, é que aglutina sobre a veste perispiritual os elementos que darão vida ao físico. Bloqueadas as energias, o físico vai ficando doente e a mãe aborta.

__ Que danadinha!…

__ Isso mesmo, Luiz. O espírito não sabe o mal que está fazendo a ele mesmo. Esta Colônia tenta ajudar estes irmãos. Graças a Deus só estamos tendo vitórias.

__ Irmã, todos eles foram inimigos dos pais?

__ Não. Muitos destes espíritos sofreram no corpo físico doenças cruéis, abandono ou mesmo aborto.

__ Desculpe esta pergunta, mas se existem outros meios de reencarnação, por que estes espíritos doentes voltam dessa maneira? Já presenciamos a redução perispiritual feita pelo próprio espírito, o espírito comandando a sua redução e chegando ao ponto desejado. Tudo isso pela força mental. E por que, sendo Lisandra um espírito repleto de neuroses, não usaram tal método?

__ Muita boa a sua pergunta, Luiz Sérgio, e fácil de ser respondida, interveio Ísis. Recorde que o espírito de Lisandra, por estar perturbado, não possui força mental suficiente para ajudar os técnicos na sua redução perispiritual. Não se esqueça também de que, no seu livro Lírios Colhidos, você demonstrou que cada caso de desencarne é um caso. O mesmo se dá no reencarne. Em ambos há um choque biológico, mas devemos dar graças a Deus por vivê-lo.

Ficamos ainda muito tempo na Colônia e antes de nos retirarmos caminhamos para um jardim muito florido e perfumado, deliciando-nos com a paisagem. Desejei rever Lisandra e ela me sorriu como se me pedisse desculpa. Abracei-a com carinho, demonstrando-lhe o quando a queria. Outros contatos ainda tivemos com os abortados. Despedi-me de Francis, beijando sua mão.

__ Irmã, quando eles voltarão ao plano físico? Perguntei.

__ Estão programadas duzentas reencarnações para este mês.

__ Tudo isso?

__ Meu filho, isso é o mínimo que já tivemos. Esta Colônia tem recebido mais irmãos do que os que encaminhamos para o corpo físico. Os abortos violentos também têm atingido estes seres.

__ É mesmo, irmã, e eles precisam tanto de uma veste carnal.

Ela sorriu, perguntando-me.

__ Irmão, vai embora só?

__ Não __ falei, olhando ao meu redor.

Só então percebi que estava sozinho. Pedi desculpa a Francis e saí em busca dos outros.

__Sérgio.

Era Kelly que me chamava docemente. Ao me aproximar dela indaguei:

__ Todas essas crianças são abortadas?

__ Sim.

__ Mas elas me parecem tão belas, alegres e felizes; dão a impressão de que amam este lugar!…

__ Sim, amam tanto que relutam em voltar à terra.

__ Irmã, estou meio confuso: estas crianças são as chamadas “nascidas mortas”; as que não chegaram ao término da gestação, não é mesmo?

__ Sim, Luiz.

__ E por que elas me parecem diferentes?

__ Porque nesta Colônia escola estão banhadas pela do evangelho.

__ Mas é crime a mãe abortar… não será crime também o espírito interromper sua gestação?

__ Aquele que pratica um aborto não é doente; estas crianças são espíritos doentes que, ao terem contato com as verdades, entram em estado de desespero; aqui estão sendo tratadas para reencarnar bem e para isso estão sendo instruídas por excelentes mestres. Note que não crescem, atingem apenas um certo tamanho. Elas vêm para cá para aprender em primeiro lugar as coisas espirituais, só depois é que receberão a educação terrena. Quanto maior o aproveitamento da criança, mais depressa será levada a nova reencarnação. Não se esqueça de que todas elas são filhas da terra e, mesmo recebendo no plano espiritual auxilio com excelentes mestres, falta-lhes experiências terráqueas e terão de voltar para adquiri-las.

__ Noto, Kelly, que aqui o livre-arbítrio funciona, não é mesmo?

__ Sim, meu amigo. Agora vamos embora, o grupo nos espera.

Assim, fomos deixando para trás aquelas alamedas floridas, uma cidade escola, onde as crianças recebiam de Jesus aulas divinas. Mesmo sendo uma colônia dos “nascidos mortos”, mostrava-se viva; o vozerio das crianças soava em nossos ouvidos como um grito de liberdade. A Colônia Azul era um pedaço do manto de Maria agasalhando aqueles espíritos infantis, e a luz brilhante que pairava sobre o aconchegante lugar partia, certamente, dos olhos iluminados de Jesus. As cascatas que banhavam aqueles corpos diminutos só podiam vir das águas da vida eterna. Um dia Jesus mostrou à terra a importância da água, banhando-se no Jordão, oferecendo-nos a lição de que precisamos dela para tirar as marcas encardidas da imperfeição. Ele, Ser puro, mergulhou nas águas para nos ensinar que precisamos mergulhar para renascer em novo ser. “

Uruaçu, 16 de novembro de 2011.

Na próxima semana postaremos o texto seguinte.