“É um problema ter que avisar a pessoa que ela tem mau hálito”, afirma a gastroenterologista Vera Lúcia Ângelo Andrade, da Clínica Horal, especializada em halitose
A halitose constrange tanto quem tem quanto quem sente. Não há nada mais difícil do que revelar a alguém que tem mau hálito. A pessoa quer dar um toque na amiga, no namorado ou no colega de trabalho, mas fica com receio de ofender. O problema, que atrapalha a convivência social, afeta cerca de 50 milhões de brasileiros, segundo a Associação Brasileira de Halitose (Abha). Pode ser indicativo de má escovação ou de algo mais grave, como cáries, distúrbios no trato gastrointestinal, rinites, sinusites, diabetes e transtornos hepáticos e renais.
O mau hálito ou halitose é uma condição anormal do hálito que se altera de forma desagradável. Não é uma doença, mas pode denunciar a ocorrência de alguma patologia ou problema de saúde. Pode também sinalizar alguma alteração fisiológica. Estão associadas ao problema mais de 60 causas. Entre as fisiológicas estão ficar muito tempo sem comer e, no caso das mulheres, o período menstrual, que potencializa o aparecimento do mau cheiro na boca.
A maior parte das ocorrências (90%) é causada por problemas bucais, como cárie, escovação incorreta e presença de placas bacterianas na língua. O mau hálito não pode ser sinônimo de falta de higiene, mas é certo que a falta de escovação pode produzir bactérias e o mau cheiro irá aparecer. “É um problema ter que avisar a pessoa que ela tem mau hálito”, afirma a gastroenterologista Vera Lúcia Ângelo Andrade, da Clínica Horal, especializada em halitose. A Abha enumera algumas consequências do problema: insegurança ao se aproximar das pessoas ou ao falar; dificuldade em estabelecer relações amorosas e afetivas e até mesmo deixar de sorrir. Sem contar que o mau hálito pode resultar em queda na autoestima e autoconfiança e até levar à depressão.
O ditado que diz que você é o que você come também vale para seu hálito. Muita gente sabe que alimentos como cebola, alho, repolho, refrigerantes do tipo cola e café potencializam o aparecimento da halitose. No entanto, é pouco divulgado que uma dieta com restrição de carboidrato ou com o consumo excessivo de proteínas pode também potencializar o aparecimento do odor indesejado. Outro problema pode ser a baixa produção de saliva, que é uma proteção natural contra as bactérias na cavidade bucal. “A pouca produção (de saliva) pode ser causada porque a pessoa toma pouco líquido ou pelo uso de medicamentos”, pontua Vera Lúcia.
TRATAMENTOS
Apesar de 90% das causas estarem associadas a problemas na cavidade bucal, muita gente associa o mau hálito ao estômago. Quando a halitose está relacionada ao trato gastrointestinal pode ser sintoma de tumores e constipações. Para cada uma das causas é indicado um tratamento. “Em geral, é fácil tratar. No caso dos problemas na cavidade bucal, em 15 dias, já temos bons resultados”, afirma o periodontista Paulo Zahr, da Odontocompany. Muitas vezes, basta fazer uma restauração da cárie ou melhorar a higienização. Em outras, são propostos exercícios para que a pessoa possa salivar mais – por meio de laser, estimulação elétrica ou mecânica. A saliva ajuda a eliminar as bactérias no intervalo entre as higienizações, deixando a boca sempre limpa.
Restos de alimentos na boca fermentam, o que gera também o mau hálito. Em geral, isso ocorre quando os restos ficam em cáries, próteses mal instaladas ou há acúmulo de placa bacteriana na língua. “É indicada a escovação lingual pelo menos três vezes ao dia. Também é recomendado o uso de fio dental”, explica Zahr.
O periodontista lembra que muitas vezes é algum parente ou pessoa mais próxima que alerta quem tem mau hálito, mas é possível fazer um autoexame. “Vale fazer uma concha com as duas palmas da mão e soltar o ar. É possível reparar a halitose”, diz. Além deste teste, há um aparelho halímetro ou halimeter, que pode confirmar o problema. É indicada também a ida ao dentista semestralmente para avaliações. Caso sejam descartadas as causas relacionadas à cavidade bucal, deve-se procurar um gastroenterologista.
HALITOFOBIA
Outro transtorno relacionado ao mau hálito é a fobia em relação ao problema. Conhecida como halitofobia, o distúrbio psíquico se caracteriza por um medo excessivo e não real da halitose. O paciente faz uso obsessivo da escovação e fio dental. Mesmo quando o médico diz que ele não tem halitose, ele não se dá por convencido.
AVISO POR E-MAIL
A Associação Brasileira de Halitose (Abha) criou um serviço de envio de e-mails anônimos para quem tem o problema. Basta entrar no site da associação (www.abha.org.br) e, na seção SOS Mau Hálito, enviar o recado anônimo para quem sofre com o desconforto. No Brasil, aproximadamente 30% da população sofre com esse problema.