Nos últimos quatro anos, apostadores desatentos deixaram de sacar R$ 925 milhões no País

O esquema criminoso de fraudes de bilhetes de loterias premiados e não resgatados pelos vencedores, desarticulado em 10 de setembro, pela ‘Operação Desventura’, da Polícia Federal (PF), levanta um alerta para os apostadores desatentos. Só nos últimos quatro anos, quase dobrou o valor de prêmios milionários não resgatados dentro do prazo de 90 dias. Saltou de R$ 155 milhões, em 2011, para R$ 315 milhões, em 2014, de acordo com a Caixa Econômica Federal (CEF). No total, R$ 925 milhões em prêmios ficaram sem resgate dos vencedores, no período.
A organização criminosa atuava em Goiás, na Bahia, em São Paulo, em Sergipe, no Paraná e no Distrito Federal. Ao perceber que o vencedor não resgataria o prêmio, o grupo criminoso se articulava com funcionários e gerentes aliciados da área de loterias da Caixa, para fabricação de novo bilhete e resgate das cifras, de acordo com as investigações.
Entre os prêmios mais expressivos e não resgatados dentro do prazo, em 2014, está um de R$ 32 milhões, que saiu para dois apostadores. No entanto, só um resgatou a sua parcela (R$ 16 milhões). Segundo a Caixa, outros dois apostadores foram sorteados em outro prêmio de R$ 30 milhões, também no ano passado, mas, de novo, só um deles buscou a sua parte (R$ 15 milhões). O banco não informou à reportagem de onde são os bilhetes premiados.
Apesar de exemplificar estas perdas milionárias, a Caixa divulgou que a maioria dos prêmios não resgatados é de pequeno valor. As razões mais comuns para que os apostadores não busquem seus prêmios são a perda do prazo prescricional de 90 dias após o sorteio e a perda do bilhete original. O banco destacou que, para o pagamento de prêmios de loterias, a lei exige a solicitação formal do prêmio no prazo e a apresentação do comprovante original de aposta. Caso não sejam resgatados pelos vencedores, os prêmios são encaminhados pela Caixa ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

“Jogos de azar”
Para o economista Paulo Borges Campos, os apostadores precisam ficar mais atentos. “A pessoa que joga tem de checar se ganhou”, avisou. Segundo ele, a ‘Operação Desventura’ também abalou, de alguma forma, “o sistema de jogos de azar, que é administrado pela Caixa”, e ainda mostrou falhas por parte dos jogadores. “A operação só está acontecendo porque as pessoas ganham e não vão retirar os prêmios”, disse.
A Caixa divulga os resultados dos sorteios em diversos meios, como em seu site, e nas mais de 13 mil casas lotéricas no País, onde podem ser retirados prêmios de até R$ 1.903,98. Acima desse valor, os prêmios podem ser recebidos em qualquer uma das cerca de 4 mil agências do banco espalhadas pelo País.
Um gerente da Caixa ouvido pela reportagem afirmou que grande parte dos prêmios não resgatados é da Lotofácil, embora a Mega-Sena seja a mais popular e a que mais arrecada. No caso da Lotofácil, muitas vezes as pessoas fazem um bolão e o prêmio é pequeno, exemplifica, o que acaba desestimulando os vencedores pegarem filas no banco para resgatar a parcela . “Se o bolão de R$ 1,5 mil for de 30 pessoas, cada um ganha só R$ 50”, calcula ele, que não quis se identificar. “É muito comum o cliente da Lotofácil ganhar e não receber.”

– Da Redação: Motta Filho (DRT-GO / Registro Profissional: 3001).