Texto VIII

“LAÇOS FAMILIARES INTERROMPIDOS.”

Despedimo-nos do Pouso da Esperança e logo estávamos no plano físico visitando a Casa Espírita. Notei a quantidade de jovens e perguntei ao irmão João Vicente:

__ O que está acontecendo, por que os jovens estão desencarnando cedo?

__ Os jovens estão suicidando-se por falta de elucidação evangélica. Os pais estão dando tudo para seus filhos, menos educação divina, e as crianças estão se afundando no materialismo, distanciando-se das coisas de Deus. No dia em que eles se conscientizarem de que a juventude passa rapidamente por nossas vidas, saberão plantar amor. Hoje a maioria dos jovens está plantando desespero. A AIDS, que aniquila o corpo e desespera a alma, prolifera velozmente, e quantos jovens, por míseras moedas, estão se prostituindo! O automóvel, que foi criado para o conforto do homem, tornou-se arma perigosa aos imprudentes. Ao entrar em um veiculo, muitos perdem a noção do dever, que é respeitar o seu próximo __ correm sem disciplina, fazem manobras violentas e, diante disso tudo, ainda se julgam os tais. Um jovem cauteloso com as leis de Deus não abusa do seu direito de cidadão.

__ Mas, doutor, já vi muitos jovens espíritas também praticando atos indignos de desrespeito ao próximo.

__ Sinto contestá-lo. Espíritas não, jovens que conhecem a Doutrina, mas ela não está nos seus corações. A Doutrina Espírita é o Cristo em ação, aquele que se diz espírita muitas vezes a conhece mas não a pratica. O jovem espírita abraça o sacerdócio de fé, da esperança e da caridade. Estamos falando aqui de espirito que está em nova roupagem, porque, para nós, não existem jovens nem velhos e sim espíritos que precisam evoluir.

__ Irmão, ali no quarto seis vimos muitas crianças que desencarnaram com drogas. Todas são consideradas suicidas?

__ Sim, qualquer “morte” provocada é suicídio. O irmão fala da sala seis, mas quero mostrar-lhe a sala oito, que abriga vários adolescentes de doze a dezesseis anos, todos eles desencarnados pela droga, pelo aborto ou por acidente, levados por uma sede imensa de liberdade. As moças, muitas, estão em busca de algo que nós, os espíritos, não sabemos o que seja. Olavo diz que a cruel repressão do passado foi agravada nas sua mentes e que hoje elas julgam que foi rompido o tabu e querem aproveitar o máximo possível Nessas orgias exacerbada pela droga, encontram a morte prematura, que tanto as faz gritar por socorro. A jovem moderna, sem educação religiosa, está atropelando o “destino”, forçando os acontecimentos. Está tornando mulher muito cedo e também chegando cedo aos sofrimentos. Vamos até a sala oito.

Fiquei um pouco pensativo.

__ Posso, doutor Zeus?

__ Se o irmão desejar, mostrar-lhe-emos as doenças. Se você, Luiz, assim o quiser, fazemos votos que a aula seja proveitosa.

Não pensei duas vezes, logo estava eu junto ao doutor João Vicente, na sala oito, que vamos chamar de enfermaria, onde varias meninas gritavam sem cessar. Todas elas, amarradas às camas, recebiam um banho de luz azul. O ambiente recendia a carne queimada, muito forte. Fitei aquelas faces, algumas lindíssimas, outras deformadas pelo ódio que havia em seus olhos. Nos órgãos sexuais de Eurinda, uma das assistidas, notava-se cor escura. Perguntei ao médico o que acontecera com ela.

__ Prostituiu-se muito cedo. Era garota de programa e, nesses encontros, contraiu uma doença terrível que nem a medicina soube explicar.

__ Irmão, por que elas não exigem que seus parceiros usem preservativos?

__ muitos homens não aceitam, daí o aumento da AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis.

__ Mas isso é um crime, doutor!

__ É, Luiz Sérgio, é um crime desumano, que os sanitaristas ignoram. A prostituição juvenil é terrível; ela cerrou os olhos e uma lagrima molhou seu rosto de menina-moça. Perguntei o que fizera.

__ Abortou dez crianças.

__ Dez? Mas ela deve ter uns dezesseis anos!…

__ Mesmo assim, já é portadora de uma ficha repleta de faltas e de violações às leis de Deus.

__ O que ase leva a entrar nessa vida?

__ Falta de orientação. Para elas, o dinheiro da prostituição é seu único meio de sobrevivência. Mas muitas entram na droga por intermédio do sexo; os namorados, traficantes e viciados levaram-nas ao vício e depois à prostituição. Está vendo aquela outra ali? É a Célia. Desencarnou com AIDS. Contraiu a doença através de um colega do seu irmão. Namorou-o e, como quase todos os namoros de hoje, o sexo estava incluído. Não sabia ela que ele era bissexual e, numa das relações, a doença alojou-se no seu organismo.

__ Mas ela parece tão recatada…

__ Si, é uma boa menina, mas, como boa parte da sua geração, praticava sexo descontroladamente, ela também desejou entrar na onda de uma sociedade sem Deus.

__ Sabe, doutor, os pais tem um pouco de culpa, não é mesmo?

__ Temos a incumbência de curar, de amenizar, de encaminhar os doentes, mas quem pode julgá-los são eles mesmos e creio eu que cada um sofre por demais. Não é fácil sentir o apodrecimento do seu próprio corpo e o desespero na alma.

__ Daqui, para onde eles irão?

__ Para os prontos-socorros da espiritualidade, até serem transportados par algum dos inúmeros hospitais de Jesus.

__ Ainda bem que os trevosos não os pegaram…

O doutor João Vicente atendeu o chamado de um dos médicos que prestavam assistência àqueles doentes e, gentilmente, agradeceu-me a companhia, dando por encerrada nossa conversa. Despedi-me:

__ Um abraço, amigo, e seja sempre um operário de Jesus em ação.

Voltei para junto dos outros, pois teríamos trabalho numa clínica aborteira, onde a especialidade do “doutor” era assassinar fetos de quatro a seis meses de vida uterina. Para lá nos dirigimos .

A clínica ficava num bairro da classe média alta. O “doutor”, muito conceituado pelos seus clientes, sentia-se um deus. Tudo muito limpo. Quem a visitasse, nem poderia imaginar que o “doutor” Argemiro praticava tais crimes levado pela ambição, sem o menor constrangimento. Esperavam-nos vários espíritos, médicos, irmão de Maria, enfim, diversos trabalhadores do Senhor. Uma bela Senhora segurou as mãos de Misael, dizendo:

__ Não deixe minha neta fazer o aborto, não deixe!

Misael lhe respondeu:

__ Estamos aqui para trabalhar, ore a Deus para que a sua neta tenha consciência do que vai fazer.

Aquela mulher estava transtornada. Era o avô da menina que estava reencarnando e a avó sofria por presenciar o desequilíbrio daquela que tanto amava . Quando a nossa equipe entrou na sala cirúrgica, a neta da Senhora já estava sendo preparada. Zeus fez de tudo para o médico desistir. Provocou-lhe tontura, ânsia de vômito, tremor nas mãos. Entretanto sua ganancia era bem maior e rapidamente foi feita a operação cesariana. Sim, meus amigos, cesariana. O feto ainda nasceu vivo, mexendo com os pezinhos. Mas, ao invés de ser acolhido em incubadora, foi friamente assassinado por aqueles que ali estavam. Mesmo jogado fora, permanecia com vida. Nossos médicos tudo faziam para socorrê-lo, até poder retirá-lo do fragil corpo físico. O tempo que aquele feto se debateu em busca de oxigênio foi um dramático pedido de socorro. Aproximei-me de Ísis e indaguei:

__ Por que não o sera logo do corpo físico?

__ Esperamos que ocorra um milagre, que alguém se arrependa.

Mas, nada. O “medico” já costurava o pequeno corte da cesariana. E a jovem logo estaria na onda da moda, pronta para mais uma gravidez.

__ Que tranquilidade!… falou para a enfermeira o “médico”.

Não sabia ele que no plano espiritual nós tentávamos conter a avó, que, abraçada ao corpo da frágil criança, gritava:

__ Perdoe, querido, ela não sabia sabia que era você ! Perdoe!

Mas o feto urrava de ódio. Logo presenciamos sua transformação, que se operou parcialmente: de uma frágil criança para um homem já idoso. Os médico aguardavam, mas ele mal podia sustentar a cabeça de homem no corpo de um feto de cinco meses.

__ Eu vou matá-la! Dizia Euzébio. Eu vou ´matá-la!

A avó suplicava:

__ Não, não! Ela não quis você, porque é muito jovem ainda…

Tentou levantar-se, mas as pernas eram minimas; ele olhava a neta ainda sonolenta e gritava:

__ Assassina! Assassina ! Assassina!

Kelly o adormeceu, mas qual foi a nossa surpresa: a pacata vovó aproximou-se do médico aborteiro e disse, com muita raiva:

__ Você vai sofrer muito, eu vingarei o meu velho, você nunca mais terá paz.

Eu não sabia se acalmava a senhora, ou assistia à retirada do feto. Cheguei perto da vó e falei:

__ Vamos embora. Eu gosto muito das vovós, tenho a mais bela de todas. Não gostaria de vê-la sofrer. Venha comigo.

__ Não, eu vou obsediá-lo até ele não aguntar mais. Vou chamar todos os que ele fez sofrer, e não lhe darei mais sossego.

__ Não faça isso. Vamos passear lá fora, falei, acariciando-lhe os cabelos.

Ela aceitou o meu carinho, mas ao passar pela neta, gritou:

__ Assassina, vai morrer seca e podre!

A menina captou aquele desespero e começou a gritar.

__ Viu como é fácil levá-los à loucura? Disse a avó. A consciência deles é o passaporte para todas as suas vítimas venham obsediá-los. O ódio que tem no coração é morada para os espíritos vingativos.

__ Mas você, vovó, não é um espírito vingativo, tenho fé que no seu coração o ódio não vai se alojar.

Ela me abraçou, soluçando.

Leve-me embora para minha colonia , quero esquecer que um dia eu tive família. Quero esquecer… abracei-a. Antes, lancei um olhar suplicante a Misael, indagando:

 

__ O que faço?

Misael sacudiu a cabeça, em sinal de assentimento.

__ Leve-a para espiritualidade.

E assim, logo estávamos na colônia das rosas, onde a querida vovó foi recebida por irmã Estefane.

__ Querida, foste à terra mesmo sendo advertida das consequências, e agora, que me dizes?

__ Perdoe-me , irmã, não tive equilíbrio suficiente para presenciar o ódio que fermente no plano físico. Ao ver o meu velho sofrer, esqueci tudo o que aprendi e virei um bicho defendendo a cria e a família. Esqueci, irmã Estefane, que todos somos irmão e que a nossa família é a Universal. Quero ir para a ala de tratamento.

Virou-se para mim:

__ Obrigado, Luiz Sérgio, jamais o esquecerei. Estarei sempre orando por você, meu jovem, esperando que todos os seus sonhos se concretizem. Jamais vou esquecê-lo, só lhe peço que não se esqueça de mim.

__ Jamais, minha irmã, vou esquecê-la. E lhe prometo que tudo farei para que sua neta encontre Cristo e se torne uma mulher digna, para novamente merecer a confiança de Deus e receber um filho, que dela necessitará para toda a vida.

Em seu olhar transparecia a dor que lhe ia na alma.

Ela parecia não acreditar nas minhas palavras, mas segurei a minha Bíblia e me despedi da colônia das rosas, levando junto de mim o perfume da esperança de que no amanhã as mulheres não mais serão vítimas de si mesmas, para levarem até a presença de alguns carniceiros o que carregam dentro de si, o tesouro da continuação das espécies: um filho, o filho de sua carne e do seu espírito; alguém que Deus lhe ofertou para que os seus dias não fossem de tédio; alguém que volta para completar o aprendizado da vida física; alguém que o seu corpo de mulher abrigou em nome do Criador.

Abençoado sejas tu, mulher, que lutas contra a fome, a doença, o abandono e inúmeras dificuldades, para conceber um filho no teu ventre. És uma embaixatriz de Deus na Terra e todos nós te louvamos, agradecidos.

Abri o nosso livro querido e caiu esta bela passagem: Eclesiástico, Capítulo 38 – Médico terrestre e celeste:

1 – Honra o médico, porque é necessário; porque o Altíssimo é quem o criou. 2 – Porque toda a medicina vem de Deus, e receberá donativos do rei. 3 – A ciência do médico exaltará a sua cabeça, e será louvado na presença dos grandes (…).”

Uruaçu, 02 de dezembro de 2011.

Na próxima semana postaremos o texto seguinte.