Uma operação do Ministério Público de Goiás e da polícia goiana prendeu nesta quarta-feira (22/11) 11 pessoas, incluindo agentes prisionais, por suposto esquema de propina e de regalia a detentos no presídio de Anápolis, a 60 quilômetros de Goiânia.
Eles são suspeitos de escoltar presos até agências bancárias para sacar propina em troca de liberar o acesso a drogas, garotas de programa, motel, boates e celulares.
O diretor e o supervisor de segurança da unidade prisional estão entre os 11 detidos na operação.
Na ação foi apreendida balança de precisão de drogas nas salas da administração do presídio. Segundo o Ministério Público, o diretor da prisão, Fábio de Oliveira Santos, recebia bilhetes dos detentos com pedido para saídas irregulares em troca de pagamento de propina. Ele agia, segundo os investigadores, em conluio com o chefe de segurança da unidade, Ednaldo Monteiro da Silva, agentes penitenciários e presos.
De acordo com o inquérito da Promotoria, os presos pagavam até R$ 1.000 para terem acesso ao celular e desembolsavam R$ 30 por uma lata de cerveja.
“Todos sabemos que, através do celular, os crimes são cometidos do lado de fora do presídio”, diz o coordenador da operação, o promotor de Justiça Thiago Galindo. “O motel tinha um livro e um telefone celular para que os presos chamassem mulher [para] dentro do presídio. É um descalabro.”
Interceptações telefônicas feitas pelos investigadores e imagens de circuito interno de segurança de agências bancárias revelam que os presos recebiam escolta de servidores para irem ao banco sacarem o dinheiro da propina.
Há imagens que mostram os agentes digitando as senhas dos próprios detentos e pegando o dinheiro em suas próprias mãos.
No meio do caminho, de acordo com os investigadores, os presos tinham trânsito livre para visitar familiares e outras pessoas, violando o que determina a legislação.
A Lei de Execuções Penais autoriza a saída de presos apenas para a ida ao velório de um parente ou para fazer tratamento em um hospital. No entanto, ao contrário do que prevê essa norma, os presos também saíam para se divertir em boates da região.
‘Tabela de regalias’
Os detentos tinham acesso a uma “tabela de regalias”, como denominou os investigadores, mas também recebiam caminho livre para comandarem a execução de crimes nas ruas.
Segundo o coordenador da operação, “nas celas, havia escritório seguro para que cometessem tráfico de droga e homicídio” e ordenarem o que chama de “suicídio forçado” de presos que eram seus desafetos.
Além de cumprir os 11 mandados de prisão, a operação executou 21 de busca e apreensão e outros sete de condução coercitiva.
Mulheres de presos foram flagradas por tráfico de drogas. No total, R$ 30 mil em espécie foram apreendidos dentro do presídio.
Outro lado
O secretário da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Estado de Goiás, Ricardo Balestreri, diz ter que foi tomado por um “sentimento de indignação” ao ver as imagens de agentes prisionais escoltando presos em banco.
“Estamos fazendo operações para limpar o sistema penitenciário. A ordem é que se faça um pente-fino em todos os 142 presídios em Goiás. Nossa postura é dura e enérgica contra os desvios”.
O governo, disse, continua trabalhando nas investigações. “Tem de ser um processo permanente de limpeza do sistema até para valorizar os servidores que são corretos”.
A Associação dos Servidores do Sistema Prisional do Estado de Goiás (Aspego) não se pronunciou. A reportagem não localizou os advogados responsáveis pela defesa do diretor e do supervisor de segurança do presídio. (Redação, com Folhapress).
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